Português: Amor cortês e casamento

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Amor cortês e casamento

            O facto de este amor ser aceite resulta do facto de o casamento medieval ser visto como um contrato, uma união de heranças, patrimónios e famílias. Era um casamento por interesse: mal acabavam de nascer, os pais destinavam logo os seus filhos, tal como ainda hoje acontece em algumas tribos africanas. Não há, no casamento, qualquer referência ao sentimento amoroso, ao afecto. Por isso, não é ilógico que se fale de amor entre pessoas que não são casadas, trovador e sua "senhor".
            A mulher casada, em geral, não conhecia o amor e os trovadores pensaram que talvez a pudesse compensar dessa falta. Eles iam cantar as "donas", que tinham, além disso, muito poder económico.
            O cavaleiro começou, progressivamente, a ausentar-se menos, vivendo mais na companhia da mulher e da família. O barão, no seu lar, mais palaciano, começou a constituir uma corte onde tinham ocasião de florescer as graças femininas, aonde eram mandados os filhos e as filhas dos vassalos a aprender as artes e as maneiras próprias dos donzéis e das donzelas, e à qual menestréis, vendedores ambulantes e outros educadores vagabundos levavam notícias do mundo e os produtos da sua indústria. Começava a florir de novo a civilização. A música, a poesia, as artes manuais, a pintura, a escultura, a arquitectura novamente surgiam para a vida.
            Foi neste ambiente que surgiu "a requintada galanteria do amor cortês" e, para expressá-lo, a chamada cantiga ou cantar de amor, um amor puro, delicado e inatingível, o amor-adoração, puramente platónico. De facto, o amor cortês é altruísta, generoso, sem obrigações nem contratos e só podia existir entre pessoas não casadas. Claro que isto é uma formulação teórica e poética do amor. Mas não se pense que estamos perante um amor absolutamente platónico; podia ser físico e isto não era desmesurado. Com efeito, o pedido do trovador ia até "obter o galardão máximo", um encontro a sós com a sua "senhor". Por isso, a ideia da morte de amor é fingida, porque esta formulação de amor é muito fantasista e idealizada.
            É conhecido o drama do poeta Guilherme de Cabestanh que se deixou apaixonar por Seremonda. O marido não gostou, matou-o com requintes de malvadez, arrancou-lhe o coração e mandou-o servir assado à sua "senhor" Seremonda. E, não contente, no fim da refeição, informou-a de onde lhe veio tal manjar. Horrorizada, a senhora atirou-se pela janela e morreu.
            As cantigas de amor seguem a mesma fórmula:
                        * louvor da dama;
                        * referência ao sofrimento que o trovador diz sentir;
                        * auto-elogio do trovador, quando fala do seu sofrimento;
                        * mesura no comportamento do trovador e da dama.


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